PRESÉPIO MOVIMENTADO 
NA
RIBEIRA GRANDE

O presépio do Senhor Prior foi fundado pelo Prior Evaristo Carreiro Gouveia,
pároco da paróquia de Nossa Senhora da Estrela, freguesia da Matriz, 
da Ribeira Grande. 

É uma criação de arte popular que terá tido o seu primeiro embrião 
com a chegada do Prior à Ribeira Grande. 

O presépio foi criado com o objectivo de ajudar a igreja e ocupar os 
tempos livres dos jovens que se reuniam na Associação da Juventude.
Provavelmente nos anos vinte é introduzida a “movimentação” 
do presépio a manivela, junto de um pequeno núcleo bíblico e a qual 
teve logo uma grande aceitação pelo público.

Por volta de 1979 a manivela foi substituída por motor eléctrico.
Aquando do aparecimento do presépio movimentado, 
as principais figuras que se moviam, eram o burro, a vaca, 
a Nossa Senhora e São José, as tradicionais Cavalhadas de São Pedro, 
as procissões à volta do adro e os romeiros. 

O Prior tinha então já a preocupação de reconstruir alguns aspectos 
religiosos e profanos que marcavam a Ribeira Grande.
O presépio do Senhor Prior é uma referência identitária da 
Ribeira Grande do século XX. 

Como objecto museológico e de grande interesse cultural 
podemos através dele rememorar e explicar a sociedade que o criou. 

Ribeira Grande, 22 de Dezembro de 2005
Gabinete de Imprensa
Ana Paula Fonseca


 
Fotos do Presépio Movimentado
(Fotos enviadas por Renato Borges de Sousa - 2006)

 
Artigos interessantes sobre:
1. Presépio Movimentado da Ribeira Grande
2. Cortejo dos Reis na Ribeira Grande
3. Santo António, Brindeiras e Trezenas

 
Ribeira Grande mantém tradição de longa data com os presépios.

Visitar nesta quadra natalícia o Presépio Movimentado 
do Senhor Prior Evaristo Carreiro Gouveia, 
situado no Museu municipal da Ribeira Grande, 
é uma tradição de longa data, que continua a despertar curiosidade 
entre os ribeiragrandenses e não só.



Mário Moura, historiador e responsável pelo Museu municipal, reporta-nos aos 
primeiros anos do século XX, altura em que o tradicional presépio foi construído pelas mãos do Prior Evaristo Carreiro Gouveia, ajudado por rapazes que na altura pertenciam à Associação da Juventude que ele próprio dinamizava.

O Senhor Prior Evaristo Carreiro foi pároco da Igreja Matriz da Nossa Senhora 
de Estrela de 1911 até Outubro de 1957, altura em morre.

Padre que marcou muitas gerações de ribeiragrandenses na sua paróquia e noutras, que pouco depois da instauração da primeira República, a Igreja atravessava uma época de crise financeira em grande parte devido à nacionalização dos bens da igreja por parte do Estado, ou seja, foram certas leis e regras que apertaram o funcionamento da Igreja.

Mário Moura em declarações ao DA, afirma que o “Padre Prior Evaristo Carreiro Gouveia entre muitas outras iniciativas, teve a ideia de construir um presépio movimentado no sentido de ajudar a igreja e ocupar os tempos livres da malta nova de então, reunidos numa instituição a que ele chamava Associação da Juventude, a qual tinha actividades ao longo do ano. Neste sentido, na época próxima do Natal transmitiu a sua ideia aos jovens para juntos construírem o presépio movimentado e assim foi feito”.

Natural da Lagoa, o Prior Evaristo Carreiro Gouveia, encomendou os bonecos feitos de madeira e barro ao sobrinho que se chamava Luís Gouveia e que trabalhava igualmente na Lagoa. Portanto, o presépio na altura movido a manivela começa a ser exposto ao público por volta do ano de 1914, a qual teve logo uma grande aceitação pelo público porque tinha uma novidade até então presenciada: os bonecos moviam-se.

Segundo o historiador, nesta altura eram apenas as principais figuras que se moviam, isto é, o burrinho, a vaquinha, a Nossa Senhora e São José, ainda “uma tentativa de reconstrução de Jerusalém antiga, as tradicionais Cavalhadas de São Pedro, as procissões à volta do adro; os romeiros, portanto, o Prior teve a preocupação também de reconstruir alguns aspectos religiosos que marcavam e ainda marcam a então vila da Ribeira Grande”.

Mário Moura esclarece ainda que a Associação da Juventude era uma espécie de instituição católica que tinha por finalidade dar ocupação cristã- católica aos jovens ribeiragrandenses e ainda para concorrer com os poucos republicanos que existiam na vila, pois eram radicais que tinham uma perspectiva anti-clericais. 

“O presépio insere-se nesta preocupação de ocupar e de retirar esta juventude à concorrência de clubes republicanos que existiam e, também para, não digo logo nos primeiros anos, mas para providenciar algum rendimento à igreja que necessitava através das visitas que eram cobradas ao público”, sublinha Mário Moura.

Estamos a falar da primeira década do século XX, quando ainda decorria a primeira Grande Guerra mundial e o presépio foi montado pela primeira vez na Matriz da Ribeira Grande.
O presépio movimentado está no Museu Municipal desde 1985, mas desde 1914 a sua morada foi se alterando de casa para casa, com alguns anos que por um motivo ou outro não foi exposto ao público, foram realizados pela direcção directa da paróquia. Antes de vir para o Museu Municipal, estava no antigo salão paroquial da Igreja Nossa Senhora da Estrela, edifício este que pertencia à igreja, permanecendo lá até meados da década de 70. 

Depois sofreu um período de interregno, ficou sempre parado sem exposições públicas. De modo que se chega à segunda metade da década setenta do século passado, e a igreja vê-se confrontada com o facto de ter encargos grandes e com pouco dinheiro a entrar. Nesta altura os responsáveis pelo presépio decidem expor a situação à autarquia, alegando que não era mais possível continuar com a manutenção do presépio, mas que não deveria acabar as exposições. O historiador explica que a “Câmara Municipal entendeu e bem tomar a seu cargo e organizar todos os natais o presépio, do mesmo modo, porém, com uma pequena diferença: não tem um espaço corrido único como tinha antes, porque não há espaço para isso agora no Museu”.

Por outro lado, Mário Moura ressalva que esta situação é provisória porque “estamos a pensar em ter um espaço todo corrido para albergar as duas divisões que o presépio ocupa, ou então há outra hipótese: inserir o presépio futuramente nas obras de ampliação do Museu Municipal, uma obra que está a aguardar financiamento para avançar. A parte da arquitectura está toda pronta o que falta é o financiamento, para depois providenciar o lançamento da obra e posteriormente, a execução da obra”.

Desde de 1985 que tem sido todos anos, religiosamente feito no Museu. 
Durante este longo período desde 1914 até 2005 conheceu dois grandes impulsionadores: no tempo em que esteve sob alçada directa da igreja, com o Prior Evaristo Carreiro Gouveia até 1957, e posteriormente a partir de 1958 até meados da década de setenta esteve sob alçada do Padre Manuel Medeiros de Sousa. 

Mário Moura refere que o presépio movimentado sempre esteve muito ligado à juventude católica e reflecte as vivências de um povo. Em contrapartida, durante a guerra colonial os homens iam para a tropa e, depois de voltarem partiam para a emigração, ou para fugir à tropa, emigravam.

“Tudo isto foi contribuindo em parte para diminuir o número de jovens disponíveis para montar o presépio. O presépio começa na primeira década do século XX, não havia outras distracções, as pessoas não tinham para entreter nas horas livres. À medida que os anos vão avançando vai surgindo equipas de futebol, as bandas músicas, a guerra colonial, a emigração, e por fim a televisão, ou seja a partir daí já não há aquela vontade da malta nova para fazer o presépio, pois estes jovens nunca eram gratificados, 
trabalham para ajudar a igreja”, de acordo com o responsável.

Mário Moura explica com ar orgulhoso que ele próprio chegou a dar manivela, quando o presépio estava no antigo salão paroquial. “Quando era mais novo, de vez em quando ia dar manivela, porque não havia motor eléctrico, no fim era nos obsequiado um cálice de vinho abafado como recompensa”, afirma, acrescentando com um sorriso nos lábios, que “a malta quando se apanhava com o vinho abafado ia fazer outras coisas, como jogar à bola, ir ao cinema, ou seja não estavam sujeitos a estar ali a dar manivela por muito tempo, mas pronto fazíamos porque não havia muito por fazer.

Mário Moura trabalha no Museu desde 1985. Esclarece que “para além de montarmos o presépio, salvamos grande parte dos conjuntos de bonecos, porque alguns cenários já tinham sido destruídos pela humidade e pela traça, porém já substituímos alguns, os mais velhos temos conservado, tendo o presépio sido praticamente reconstruído pelo senhor Gualberto Faria na montagem e a estrutura eléctrica feita pelo senhor Machado, podemos dizer que conseguimos pôr o presépio quase fidedigno ao original”.

Este trabalho foi fruto de um árduo trabalho de pesquisa deste historiador, que na altura procedeu a uma recolha de elementos de tradição oral de pessoas mais próximas do primeiro momento da execução do presépio, tentando ter uma perspectiva geral e fiel. Por outro lado, fez pesquisas de material escrito como jornais chegando até a publicar um livro para perceber como funcionava o presépio.

“Porque uma coisa é olhar e ver outra coisa é olhar e aprofundar. O objectivo era de ter uma linha histórica, ao mesmo tempo fazer uma perspectiva sociológica, achei que era pertinente até que escrevi sobre isto, saber qual a relação do presépio com a terra onde o viu nascer, com a igreja e quem eram os visitantes”, refere. Mário Moura salienta que de ano para ano é necessário presentear os visitantes com o factor surpresa. 

Apesar da estrutura estar fiel em 90%, a mesma “tem de ter uma novidade ao ponto de captar o público, por isso mesmo todos os anos fazemos uma ou duas peças novas, trocar alguns por outros que estão arrumados e outra é trocar alguns de lugar. Este é o fio condutor que temos feito durante estes tempos”, sublinha Mário Moura. O responsável indica que existe dois públicos que visitam o presépio. Um é o público que visita o presépio nesta quadra do Natal e,de verão são principalmente os turistas.

“O presépio nunca foi tão filmado e tão falado como agora. Todo o turista que vem a São Miguel pára aqui, porque é uma peça de Museu. Por seu turno, no Natal são pessoas que inserem esta visita no seu programa natalício, porque há música própria da quadra, prova de licores; incenso a queimar; as pipocas à saída do Museu, é uma portanto uma altura de festa”.

Mário Moura acrescenta ainda que é engraçado verificar que “vêm cá avós com netos, que explicam que já os seus avós visitavam o presépio com eles, isto é, o presépio é visitado por várias gerações”. O presépio está aberto oficialmente ao público a 25 e permanecerá até ao Dia de Reis, inserido no programa de Natal, mas depois continua aberto a escolas e Instituições de toda a ilha.

De realçar que a cidade da Ribeira Grande desde há muito tempo que mantém uma ligação muito forte com a execução de presépios. Mário Moura sublinha que esta ligação remonta a uns duzentos anos atrás com o aparecimento do Arcano, um presépio executado por uma única freira, a Madre Margarida Isabel do Apocalipse.

“Com o surgimento do Arcano, as pessoas ficaram deslumbradas, aqui está uma primeira ligação, terá havido outros antes, mas não existe dados históricos”, indica Mário Moura, acrescentando que “partindo do Arcano tem sido uma cadeia interligada até ao momento, depois com o presépio do Senhor Prior que chama à R. Grande milhares de pessoas.

Portanto há esta forte tradição de orgulho e auto-estima e, claro que os ribeiragrandenses insistem em manter”. De referir ainda que todos os anos, decorre até ao dia 24 a entrega de candidaturas para o concurso de presépios a nível de particulares e colectivos, e um outro ao nível das escolas, que premeia os mais bem executados.

Fonte: A União
Data: 2006-12-22
Ana Pereira


 
Uma tradição que não se perde no tempo

Está em exposição no Museu Municipal da Ribeira Grande o tradicional presépio movimentado do prior Evaristo Carreiro Gouveia, que constitui uma das grandes atracções natalícias da ilha de S. Miguel.

Na reabertura deste presépio, aberto até dia 7 de Janeiro, foi inaugurada uma exposição, intitulada “o Nosso Presépio em Imagens” constituída por fotografias antigas do presépio do prior bem como das pessoas que o montaram ao longo dos anos.

O presépio do senhor prior foi fundado pelo prior Evaristo Carreiro Gouveia, pároco da paróquia de Nossa Senhora da Estrela, freguesia da Matriz, da Ribeira Grande.
É uma criação de arte popular que terá tido o seu primeiro embrião com a chegada do prior à Ribeira Grande. O presépio foi criado com o objectivo de ajudar a igreja e ocupar os tempos livres dos jovens que se reuniam na Associação da Juventude.

Provavelmente nos anos vinte, é introduzida a “movimentação” do presépio a manivela, junto de um pequeno núcleo bíblico e a qual teve logo uma grande aceitação pelo público. Por volta de 1979, a manivela foi substituída por um motor eléctrico.

Aquando do aparecimento do presépio movimentado, as principais figuras que se moviam, eram o burro, a vaca, a Nossa Senhora e São José, as tradicionais Cavalhadas de São Pedro, as procissões à volta do adro e os romeiros. O prior tinha então já a preocupação de reconstruir alguns aspectos religiosos e profanos que marcavam a Ribeira Grande.

O presépio do senhor prior é uma referência identitária da Ribeira Grande do século XX. Como objecto museológico e de grande interesse cultural podemos através dele rememorar e explicar a sociedade que o criou. Na reabertura, haverá uma prova de licores caseiros e também uma outra exposição de presépios de Jeremias da Costa.

Também até 31 de Dezembro e de 1 a 7 de Janeiro, estão a decorrer no Museu Municipal (Casa da Cultura) duas exposições de fotografia de Ricardo Rodrigues e de Presépios de Lapinhas. O Museu Municipal entre os 15 a 31 de Janeiro e de 1 a 15 de Fevereiro, recebe uma outra exposição de fotografia, desta vez de Luís Nóbrega.

26 de Dezembro de 2006


 
A Câmara Municipal da Ribeira Grande vai levar a efeito, tal como em anos anteriores, o Prémio Prior Evaristo Carreiro Gouveia, um Concurso de Presépios de Natal.

Sendo uma incontestável expressão da cultura popular, o presépio ocupa também um lugar de relevo no Natal e é uma manifestação cultural que merece todo o nosso respeito e protecção.

Foi o Padre Evaristo Carreiro Gouveia, Prior da Matriz da Ribeira Grande, que, como ninguém, soube dar o grande impulso a esta tradição. Foi ele que criou o presépio movimentado, mais conhecido por “Presépio do Sr. Prior”. Iniciativa que, pela altura do Natal, continua a atrair a esta localidade numerosos visitantes. Com o intuito de enaltecer a memória e a obra deste grande homem e de sensibilizar a população deste Concelho para a integração do presépio no seu Natal familiar, a autarquia Ribeiragrandense decidiu uma vez mais promover esta iniciativa.

O concurso que se realiza em duas fases, por Freguesia e por Concelho, integra duas modalidades, o Presépio Tradicional onde o júri avaliará a preservação e valorização das construções tipicamente populares e o Presépio Original em que o júri avaliará a originalidade, criatividade e qualidade artística manifestada.

As candidaturas poderão ser efectuadas até 24 de Dezembro, nas respectivas Juntas de Freguesia, através do preenchimento de uma ficha de inscrição.

Aos vencedores das modalidades Presépio Tradicional e Presépio Original, em cada uma das freguesias será atribuído um prémio pecuniário no valor de 50 Euros, sendo atribuídos Troféus aos 2º e 3º classificados, sendo a selecção realizada no dia 26 de Dezembro.

A este concurso, podem concorrer todos os residentes do concelho da costa Norte da Ilha de São Miguel, individualmente ou em grupo, sendo seleccionados para a 2ª fase do concurso, os vencedores em cada uma das freguesias do concelho.

Os prémios a atribuir a nível concelhio para cada uma das modalidades, são para os 1º prémios 250 Euros, para os 2º prémios 125 Euros e para os 3º prémios 75 Euros, sendo a selecção realizada a 30 de Dezembro.

Os resultados serão divulgados durante a quadra natalícia nas sedes das Juntas de Freguesia e na Casa da Cultura da Ribeira Grande, sendo os prémios entregues durante as festividades da “Noite das Estrelas”.

Quarta-Feira, dia 04 de Dezembro de 2002


 
CORTEJO DOS REIS NA RIBEIRA GRANDE
 

Tem lugar no próximo domingo, dia 8 de Janeiro na freguesia da Matriz da Ribeira Grande o tradicional
Cortejo dos Reis, numa organização conjunta da Câmara Municipal da Ribeira Grande, 
em conjunto com a paroquia e Casa da Cultura/Museu.
O cortejo com cenas alusivas ao Antigo e Novo Testamentos sai da Igreja da Matriz 
pelas 15 horas, percorrendo as principais artérias da freguesia.
O cortejo é formado por dezenas de figurantes, que neste dia encenam as principais cenas bíblicas 
e da tradição cristã evocativas ao nascimento de Jesus.

É ao fim ao cabo é um presépio vivo ambulante, onde por exemplo os três Reis Magos a cavalo 
e a Nossa Senhora, transportada num burro, percorrem as principais. 
Ao longo do trajecto, os populares dão presentes monetários, 
que são encaminhados para a paróquia e Casa da Cultura.

Na Matriz da Ribeira Grande, o Cortejo de Reis, fundado pelo Prior Evaristo Carreiro Gouveia, 
estava praticamente desactivado, tendo sido dinamizado em 2004 pela 
Câmara Municipal da Ribeira Grande e pela Casa da Cultura, 
com o objectivo de manter a tradição do Cortejo em comemoração do Dia de Reis. 
Nesse mesmo dia, idênticos cortejos podem ser vistos nas freguesias da Ribeirinha e Fenais da Ajuda. 

Ribeira Grande, 6 de Janeiro de 2006
Gabinete de Imprensa 
Ana Paula Fonseca


 
Santo António, Brindeiras e Trezenas

Por Ferreira Moreno

Nova reportagem de Andreia Fernandes no "Diário Insular"de 23 de Fevereiro p.p., veio despertar-me um rol de recordações, que ainda guardo religiosamente, da minha saudosa vivência nas ilhas. Trata-se, desta vez, das apetecidas brindeiras!

O termo "brindeiras" aplica-se quer a um pão pequeno cozido com a intenção de brindar qualquer pessoa, ou dá-lo como esmola, (Augusto Gomes, Cozinha Tradicional da Ilha de São Miguel), quer aquele pão pequeno de massa sovada que se oferece e se distribui nos bodos, (Maria Alice Borba Lopes Dias, Ilha Terceira, Estudo da linguagem e Etnografia). 

Por seu turno, João Homem Machado diz-nos ser um pãozinho de trigo, comprido e de cabeça, ou seja, com uma das pontas dobrada p'ra cima; ou então um pequeno pão de milho, redondo, geralmente de milho mole, com fermento, açúcar, manteiga etc. (O Folclore da Ilha do Pico).

Andreia Fernandes, na sua reportagem, brinda-nos com a descrição dum costume secular mantido ainda hoje pela senhora Maria Enes, na freguesia das Lajes (Terceira). Certamente no cumprimento de promessas, bem como movida pela sua devoção a Santo António e em sufrágio à memória dos Fiéis Defuntos, Maria Enes cozia as suas "brindeirinhas" à moda antiga (forno de lenha) e deixa-as na rua. A primeira pessoa, que aconteça passar pelo sítio, pode considerar-se perfeitamente convidada a levar o pão consigo!

No entanto, p'ra quem sabe e eu ainda bem me lembro, manda a tradição que a pessoa oferecendo a brindeira não se fique a olhar p'ra rua, e a pessoa recolhendo a brindeira diga uma ligeira oração em silêncio.

Este costume relaciona-se com aqueles pães que eram bentos e depois distribuídos como esmolas por ocasião de certas celebrações religiosas. Carreira da Costa, a seu tempo, escreveu que antigamente em São Miguel os conventos Franciscanos davam pão aos pobres, por ocasião das trezenas e festa em louvor de Santo António.

Na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela, da "minha" Ribeira Grande, há um altar lateral com uma vistosa e grande Imagem de Santo António. Era aqui precisamente que, todos os anos, a gente se ajuntava p'rá TREZENA em honra de Santo António... uma devoção de treze dias consecutivos, com missa e sermão da parte da manhã, terminando à noite do décimo terceiro dia com a distribuição do Pão de Santo António.

Esta devoção promovida pelo pároco local, o saudoso Padre Evaristo Carreiro Gouveia (1887-1957), mais conhecido carinhosamente pelo nome de o SENHOR PRIOR, tinha lugar durante o período de férias de verão, para assim contar com a presença dos seminaristas, pois a esse tempo a Ribeira Grande era "berço" de muitas vocações sacerdotais.

Mas, afinal, o que vem a ser isto de pão bento de Santo António?

No que diz respeito à Ribeira Grande, era costume trazer p'rá igreja, no último dia da trezena, cestos e mais cestos de pão, quer de trigo quer de milho. Após a bênção do Sr. Prior, os pães eram devidamente distribuídos aos pobres, através de "senhas" e conforme as necessidades de cada família.

Estes pães, claro, eram cozidos e oferecidos pelos paroquianos, que não só contribuíam p'rá sua distribuição, mas também guardavam p'ra si próprios um determinado número de pães. Confesso que ainda hoje, transcorrido quase meio século de imigração, ainda respiro aquele típico "cheirinho"de pão fresco, que enchia a igreja. E em chegando a casa, era um alvoroço sentarmo-nos à mesa e partilhar aquele "pão bento", que parecia ter um sabor deveras celestial.

Esta tradição do "pão dos pobres" de Santo António vai entroncar-se numa estória muito antiga, que o Sr. Prior nos contava, àcerca duma padeira que tinha perdido a chave da loja, e havia rezado a Santo António que lhe abrisse a porta; em paga ela prometia cozer pão p'ra dar aos pobres. O Santo ouviu a oração e operou o milagre. A padeira cumpriu a promessa, não só nesse dia mas daí em diante.

A princípio julguei que a estória revestia-se com uns laivos de lenda, mas depois vim a descobrir que se tratava dum caso concreto e histórico. Dele me ocuparei na próxima crónica. Até lá:

Santo António foi ao forno
Beliscar o seu bolinho,
Disseram as freiras todas:
Santo António é gulosinho!

Santo António perdeu a capa
No caminho do estudo,
Juntaram-se as freiras todas,
Deram-lhe outra de veludo.

Santo António Português,
Quando foi pregar ao mar,
Até os peixes na água,
Se puseram a escutar.

Onde estará Santo António
Que não está na sua igreja?
Anda fazendo milagres,
É o que o Santo mais deseja.